Ano novo, livros novos
Jornal A Tribuna, 05 de janeiro de 1958
Inegavelmente, o ano que passou não desmereceu a inflação impulsionada pelo nosso bravo piloto das finanças, que a pretexto de deflação continua emitindo… Livros e jornais tiveram que travar a batalha campal do papel, para se manterem porque o homem da Fazenda acha que tudo o que é papel deve virar dinheiro. Papel que não é para emissão ele acha dispensável.
Mas os livros continuam editados, as coleções novas aparecem: “Nossos clássicos” da Agir, por exemplo já atingiu o seu número 13. E é mesmo um clássico, esse Santa Rita Durão, que para a informação do leitor de hoje Hernani Cidade prefacia com sabença sintética, dizendo tudo em uma dezena de páginas. Seguem-se depois trechos de antologia. Penso que já chamaram a atenção para o “método” de “Nossos Clássicos”, mas não fica mal referir-me a ele de novo: no fim há um questionário, um exame de consciência para saber se o leitor leu mesmo, e para o leitor ficar sabendo, quando leu, se aproveitou a leitura; se já ou não esse hábito em leitores, a Agir inteligentemente põe a coisa em pratos limpos. Quando se lê um livro deve-se no mínimo saber o que o questionário inquire.
Já que falei que os livros continuaram saindo, 1957 marca, para o interesse das editoras, uma iniciativa até aqui bem rara já agora incorporada aos esforços dos livreiros. Quero falar da edição de teatro: estou recebendo da Editora Civilização Brasileira “Teatro de Millôr Fernandes”, o prestigioso Vão Gôgo, ou seja, em bloco, quatro peças de teatro! Vale a pena ler o teatro Vão Gôgo. Pelo menos é um teatro de invenção e bem escrito. Que as editoras continuem editando teatro novo, o que é muito bom.
Mas até literatos novos, moderníssimos, vão sendo reeditados: “O encontro marcado”, um dos grandes livros de 1957, foi reeditado pela Civilização Brasileira, e a história que Tristão de Ataíde chama de “kafkiana” de Paulo Novais, escritor brotinho (nasceu em 1931), o romance “A ronda do pátio”, (Agir), está aqui sobre a mesa, esperando a vez… É um livro moderno. Não espanta então, que José Olympio, que nunca fica atrás, ameace, já está anunciando, nova edição de “Doramundo”, de Geraldo Ferraz, em cujo volume – dois romances – estará incluindo o tumultuário registro que foi “A famosa revista”, um livro que saiu ao fim da guerra (1945), e não foi reeditado até hoje (moderníssimo), em que o mesmo Geraldo Ferraz e Patrícia Galvão tentaram um gênero novo, infelizmente pouco legível para o tempo. Sérgio Milliet, com um prefácio inteligentíssimo, colocará os leitores deste volume ao par do que se trata.
Terminou o ano bem, e o ano novo começa melhor. Pelo menos, estas linhas demonstram a vitalidade da movimentação editorial, o que é bem apreciável, enquanto o ministro da Fazenda vai fazendo dinheiro, que é função dele.
Por falar em estímulos, acho que a Feira do Livro provou bem, e que cabe de vez em quando fazer coisas como essa. Parabéns à Comissão de Cultura pela série de conferências literárias. O que é preciso agora é atualizar um pouco mais a divulgação da literatura e da poesia.
Ano novo leitor amigo, livros novos, muitos livros novos.
MARA LOBO.