Patrícia Galvão, Pagu, é celebrada em novo livro de sua biógrafa Lúcia Teixeira
Patrícia Galvão (Pagu) foi a Autora Homenageada da Flip 2023, em Paraty. Documentos inéditos do acervo de Lúcia Teixeira e Centro Pagu Unisanta trazem muito sobre ela e estão no novo livro “Os Cadernos de Pagu”, publicado pelas editoras Nocelli (um selo para publicações especiais da Editora Reformatório) e Unisanta.
Há vários momentos desconhecidos na obra: “Em 1933, ela lança “Parque Industrial”, primeiro romance social proletário brasileiro, modernista e precursor, assinando Mara Lobo. Pagu analisou de forma crítica sua própria produção, fazendo um balanço da Literatura Moderna do Brasil. No Suplemento Literário do jornal O Diário de São Paulo, em 1946, contestou “a fanática gente da literatura social”. Justifica citando Marx, leitor de Balzac: “Uma obra literária só existe em função de seu valor literário”.
Outra descoberta nos manuscritos foi a defesa das mulheres, exploradas em sua condição de gênero social ou como trabalhadoras. “E, mais do que isso, aparece o papel do racismo na questão da opressão de gênero e manutenção das desigualdades estruturais”, completa Lúcia.
Mas afinal quem foi Pagu? A colegial de batom escuro que encantou Oswald de Andrade e foi o pivô da separação do escritor com Tarsila do Amaral? A militante do ideal detida 23 vezes por suas posições politicas? A jornalista que no tabloide O Homem do Povo, já questionava a atuação das mulheres na sociedade, por meio de histórias em quadrinhos e na coluna Mulher do Povo?
A autora do primeiro romance proletário brasileiro, “Parque Industrial”, ou do romance “A famosa revista”, que é o contrário do primeiro? Mara Lobo, pseudônimo que usou muitas vezes? A desenhista de croquis de Pagu? A mãe ausente que mesmo assim deixou registros de saudade e emoção em bilhetes e cartas? A Gin, já nos últimos anos de vida, escrevendo uma coluna de TV para o jornal A Tribuna?
Foram muitas, foram tantas… Para revelar essas e outras faces de Patrícia Galvão nada melhor que sua biógrafa, a Lúcia Teixeira, autora da Trilogia Pagu, que compreende três livros, entre eles a fotobiografia “Viva Pagu” (em coautoria com Geraldo Galvão Ferraz, filho de Pagu, já falecido).
Lúcia pesquisou durante anos a vida de Patrícia, selecionou todo material e montou em Santos o Centro Pagu Unisanta, com mais de três mil documentos (cartas inéditas, inclusive), fotos e objetos de Patrícia.
Entre os textos no acervo, estão “Microcosmo”, que ela escreveu na prisão, em 1939, e duas peças teatrais, todos inéditos: “Parque Industrial”, baseada no romance homônimo publicado em 1933 e “Fuga e Variações”, escrita em 1952.
Lúcia Teixeira comenta que Pagu e sua obra continuam muito atuais, principalmente em um tempo de buscas constantes como o que vivemos. “Ela documentou seu próprio cotidiano e nessa fotobiografia procuramos recuperar as oscilações de uma vida tumultuada, contraditória e intensa”.
Patrícia também foi incentivadora cultural, moderna e pós-moderna em sua obra e vida, à frente de seu tempo. Suas colunas de jornal trataram de cultura, política, arte, literatura, teatro, divulgando autores desconhecidos no Brasil e alguns no restante do mundo. Em suas críticas sobre o cotidiano social e no que trouxe ao público brasileiro de autores estrangeiros, foi visionária, com olhar sensível, antecipatório.
Sempre sonhou entregar-se totalmente, até a aniquilação: ao amor, a uma causa, à vida e até à própria morte. Desde a infância, sonhava com o movimento, o conhecer, o “ir bem alto”, na busca de expressar sua ampla capacidade de amar.
Sobre Pagu
Estreia com desenhos em 1929 nas páginas da Revista da Antropofagia. Consistia em crítica radical à acomodação modernista e à civilização ocidental.
Participa ativamente da luta ideológica. Foi a primeira mulher presa no Brasil, em Santos, em 1931. Havia, enfim, encontrado uma razão para viver. E para morrer. A entrega total. Militou em Santos, no Rio e em São Paulo.
A política esteve presente também em parte da produção literária e jornalística de Pagu, como no jornal Vanguarda Socialista. No livro Parque Industrial, denuncia as mazelas e hipocrisias da sociedade, defendendo, sobretudo, as mulheres, exploradas por sua condição de gênero social ou como trabalhadoras. No romance A Famosa Revista, escrito 12 anos depois, a crítica é contra o partido que destrói valores éticos.
Em 1950, candidata-se à deputada pelo Partido Socialista Brasileiro, sem ter sido eleita. Passa a exercer, então, cada vez mais a militância na área cultural.
Em Santos, Patrícia faz campanha pela construção do Teatro Municipal, conseguindo seu intento; incentiva a formação de grupos amadores e de teatro de vanguarda. Participou, ainda, da fundação da Associação dos Jornalistas Profissionais e da União do Teatro Amador.
Nasceu dia 9 de junho de 1910, em São João da Boa Vista, Interior de São Paulo. O final da vida foi em Santos, ao lado do jornalista e escritor Geraldo Galvão Ferraz, um homem apaixonado e dedicado que entendia sua ânsia de viver e dava a sustentação para os sonhos de Pagu.
Sobre Lúcia Maria Teixeira
É mestre e doutora em Psicologia da Educação, educadora, psicóloga e escritora. Indicada ao prêmio Jabuti, recebeu relevantes prêmios. Autora, entre outros, da Trilogia Pagu:
“Viva Pagu – Fotobiografia de Patrícia Galvão”, de Lúcia Maria Teixeira e Geraldo Galvão Ferraz, coedição da Imprensa Oficial do Estado e da Editora Unisanta, retraça a rica trajetória da mulher libertária a partir de amplo material iconográfico e muitos documentos inéditos.
“Croquis de Pagu e outros momentos felizes que foram devorados reunidos” apresenta desenhos inéditos e outros que ela dedicou à Tarsila do Amaral, no “Álbum de Pagu, nascimento, vida, paixão e morte”.
“Pagu – Patrícia Galvão: livre na imaginação, no espaço e no tempo” (1999), pela Editora Unisanta. Trata-se de uma pesquisa de fôlego, enriquecida com fotos e precioso material histórico, contextuando diferentes momentos histórico, cultural, econômico e político nos quais se distinguiu Pagu.