PAGU, sonhos necessários
Lúcia Teixeira*
Patrícia Rehder Galvão – Pagu, viveu de 1910 a 1962. Jornalista, mulher precursora, musa modernista do Movimento Antropofágico, militante política, incentivadora cultural, é moderna e pós-moderna em sua obra e vida, à frente de seu tempo. Suas colunas de jornal trataram de cultura, política, arte, literatura, teatro, divulgando autores desconhecidos no Brasil e alguns no restante do mundo. Em suas críticas sobre o cotidiano social e no que trouxe ao público brasileiro de autores estrangeiros, foi visionária, com olhar sensível, antecipatório.
Sempre sonhou entregar-se totalmente, até a aniquilação: ao amor, a uma causa, à vida e até à própria morte. Desde a infância, sonhava com o movimento, o conhecer, o “ir bem alto”, na busca de expressar sua ampla capacidade de amar.
Estreia com desenhos em 1929 nas páginas da Revista da Antropofagia. Consistia em crítica radical à acomodação modernista e à civilização ocidental.
Participa ativamente da luta ideológica. Foi a primeira mulher presa no Brasil, em Santos, em 1931. Havia, enfim, encontrado uma razão para viver. E para morrer. A entrega total. Militou em Santos, no Rio e em São Paulo.
A política esteve presente também em parte da produção literária e jornalística de Pagu, como no jornal Vanguarda Socialista. No tablóide O Homem do Povo, já questionava a atuação das mulheres na sociedade, por meio de histórias em quadrinhos e na coluna Mulher do Povo. No livro Parque Industrial, denuncia as mazelas e hipocrisias da sociedade, defendendo, sobretudo, as mulheres, exploradas por sua condição de gênero social ou como trabalhadoras. No romance A Famosa Revista, escrito 12 anos depois, a crítica é contra o partido que destrói valores éticos. Dedica-se ao jornalismo da melhor qualidade.
Em Santos, Patrícia faz campanha pela construção do Teatro Municipal, conseguindo seu intento; incentiva a formação de grupos amadores e de teatro de vanguarda. Em Santos, participa da fundação da Associação dos Jornalistas Profissionais e da União do Teatro Amador.
Talvez, para muitos, a vida de Patrícia e suas buscas pareçam fora de moda, já que a sociedade acredita ser possível viver sem qualquer dor, com a ditadura do imperativo do gozo, individualista e hedonista. Nunca foram tão necessários seus sonhos de mundos imaginados que nos abrem caminhos, nos movem, dando razões para desejar e buscar realidades melhores que as atuais.
*Lúcia Maria Teixeira é mestre e doutora em Psicologia da Educação, educadora, psicóloga e escritora. Indicada ao prêmio Jabuti, recebeu relevantes prêmios. Autora, entre outros, da Trilogia Pagu-livre na imaginação, no espaço e no tempo; Croquis de Pagu e Viva Pagu – Fotobiografia de Patrícia Galvão; da Trilogia do Tempo – os infantojuvenis Caminho para ver estrelas; Tudo é possível – incrível viagem no tempo e O segredo da longa vida; Fruto proibido – um olhar sobre a mulher; Autoridade do professor – meta, mito ou nada disso; e A claridade da noite – o aluno do Ensino Superior, entre outros. Suas pesquisas sobre o Ensino Superior embasaram o Plano Nacional de Educação. É presidente do Colégio e Universidade Santa Cecília (Santos, SP).