O Homem que tira Retratos dos Mortos
Na porta da necrópole, de gravatinha funerária Herr Strauss, retratos em esmalte vitrificador a fogo, grande amigo do poeta futurista Mário de Andrade.
Naquele tempinho paulista de 1914 em que faziam juntos e mais o dr. Eloy Chaves a campanha pró-guerra contra Alemanha. Comparamos o destino dos três.
O dr. Eloy usufrui as delícias de ter vendido em dólares (1924) uma empresa elétrica rural à Light.
O poeta Mário faz discursos separatistas e Herr Strauss tira retratos de defuntos esperando ainda tirar o dos dois.
-O que me trouxe aqui foi a aventura. Dá para comer e sentir as coisas.
Quando morre um rico dá-se logo um pulo no palacete. Me perguntam lá de cima arrogante: “O que é? Não quer nada não!” Venho esperar o desgraçado no cemitério.
A gente vê todo o dia tanta coisa engraçada aqui. Quando o general morreu quem fez o discurso foi o coronel… Discurso sentido… Depois eu ouvi ele falar pro outro “Arre que esse bandido deu o fora!” Depois… A encomenda do jazigo do bicheiro que vai custar 500 contos com um anjo da guarda abrindo as asas de 2 metros e meio… com a cripta do mosaico veneziano.
O retratista encapotado e friorento conclui:
-Está vendo a capela? O defunto que quiser parar ali tem que pagar uma taxa gorda.
Pára de falar oferecendo as suas rodelas de esmalte.