Habitação Coletiva
Os tanques comuns do cortiço estão cheios de roupa e de espuma, no capim meia dúzia de calças de homem e algumas camisolas rasgadas. Mãos esfoladas se esfolam. Criancinhas ranhudas de um loiro queimado, puxam as saias molhadas.
– Larga pestinha! Tenho que ensaboar tudo isso. Estes filhos só nascem para tentar…
-Praga! Eu te meto a mão, até o diabo dizer chega.
-Gente pobre não devia ter filho!
-Aí vem a Didi. Você viu a criança dela que mirrada!
Um preta deformada aparece com o filho cinzentinho. Uma teta escorrega da boquinha fraca, murcha sem leite. O avental encarvoado enxuga os olhinhos remelentos.
-Gente pobre não pode nem ser mãe! Me veio esse filho nem sei como. Tenho de dar pra alguém pro coitado não morrer de fome. Se eu ficar tratando dele, como é que arranjo emprego? Tenho de largar dele para ficar tomando conta dos filhos dos outros. Vou nanar os filhos dos ricos, e o meu fica aí sem num sei como.
Ninguém diz nada. Estão quase todas nas mesmas condições. Passam a falar na sedução das garotas do bairro.
-Uma que se perde logo é a Julinha.
Otávia e Rosinha chegam do serviço. Didi procura ainda espremer o peito e o esfrega na boca entreaberta do filho.
-Trouxe leite condensado pro seu neném Didi!
-Toma essa lata de marmelada.
A boca desdentada da preta nem agradece…
-E a Mathilde?
-Oscila um pouco, mas vai. Nunca mais tornou a ver aquela amiga rica. Está trabalhando nas meias. Vai indo bem.
-Você já deu aqueles folhetos pra ela ler?
-Já leu. Vamos levar ela hoje à reunião?
A voz estridula do senhorio bate nas portas.
Todo o cortejo se lamenta.
-Não arranjei!
-Pelo amor de Deus, deixa pra amanhã!